Praticar desporto é bastante saudável, já que além de fazer bem à saúde, funciona como combustível a nível psicológico.
A motivação no desporto não é algo natural: não existem seres humanos naturalmente motivados no sentido biológico. No entanto, o desporto estimula e potencia comportamentos e atitudes. Desde pequena que a criança vai aprendendo a buscar por situações que a façam sentir melhor, mesmo apelando ao desafio. Vai assim desenvolvendo resistência para lidar com os obstáculos e aprender a superar a frustração e a pressão com que se depara.
Saber ganhar e saber perder: Eis a questão.
Há quem diga que a derrota só existe para quem não dá o melhor de si próprio. Há que perceber que a derrota faz parte das condições de vida, seja em que situação for. Praticar desporto só vai preparar ainda melhor o ser humano desde tenra idade para aprender a gerir os seus conflitos internos, já que sair da zona de conforto e ir em busca do desconhecido torna-se um hábito saudável na vida de um desportista.
Neste contexto desportivo, a criança fica, muitas vezes, revoltada consigo mesma ou a sentir-se culpada. Noutras situações responsabiliza os colegas. Isto acontece porque é colocada à prova e precisa superar-se. A preparação mental acaba por se tornar num fator diferencial, em que os seus valores e princípios são testados através do seu desempenho.
As derrotas fazem parte das metas.
É preciso saber perder para saborear a vitória.
É preciso ser persistente.
É preciso cair para saber levantar.
Assim como as quedas, o processo de negação em aceitar cada uma delas, também começa desde cedo. Por exemplo, na escola, as notas menos boas numa dada disciplina, fazem com que a criança, ao invés de encará-la, passe a evitá-la.
É essencial aprender a gerir a falha. É preocupante pensar nos pais que colocam os filhos numa redoma de vidro, tentando camuflar e mascarar os fracassos da criança. É preciso entender que a vitória se constrói com esforço, suor, gosto e amor pelo que se faz.
Por exemplo, na escola, quando a criança não sabe lidar com a questão do fracasso, passa a ter aversão à matemática ou ao inglês, porque teve uma nota baixa e já diz que “não vai conseguir” pois dizem que não tem muito jeito. O mesmo se passa no desporto ou em qualquer outro contexto e isso impede e limita o desenvolvimento da criança.
É importante ter em conta que o “boom” das redes sociais veio dificultar e muito a carga do ser humano em se sentir “perdedor”. A exposição de uma vida perfeita, onde supostamente tudo é bom e bem-sucedido, faz com que o fracasso pareça imune aos olhos dos demais.
Hoje em dia, muitos pais escolhem viver nos bastidores por não saber como lidar com as situações e as crianças acabam por ser arrastadas, não sendo reconhecidas/valorizadas nas suas atitudes.
Ficam assim algumas dicas para a superação de uma derrota na criança:
- Uma derrota não define a criança, por si só;
- Utilizar a técnica do reforço positivo, incentivando a criança, mesmo quando perde;
- A derrota faz parte da vitória;
- Ter fé, aprendendo a acreditar, mesmo depois de perder;
- Tentar perceber qual a causa, não mascarando a realidade;
- Não transmitir a pressão/ansiedade para a criança ou eventuais caprichos, passando a mensagem de que perdendo ou ganhando, o sentimento por ela continuará a ser igual.
Muitas vezes a criança age porque quer mostrar que faz algo bem e não há nada melhor que partilhar com os pais e a restante família que ganhou. No entanto, se esta já se sentir mais segura perante o seio familiar, já não vai ter esta necessidade com o intuito de mostrar que fez bem, mas sim de partilha, que é o mais saudável.
Devemos educar as crianças para a prática de hábitos saudáveis. E saber perder é, sem dúvida, um deles. Até porque, quem ganha, primeiro teve com certeza que tentar. Perder faz parte da vitória e esta tem outro sabor quando é alcançada com o próprio esforço e aprendizagem. Torna-se numa lição de vida.
Procuremos educar através do amor e do incentivo. Sem máscaras. E com todas as falhas que fazem parte.
É urgente descomplicar.
Sandra Anjos.