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Ir ou não para a escola? Eis a questão...




Reparo pelo que acompanho na vida diária das crianças e dos pais que a questão de quando entrar para a escola continua a ser algo que deixa os pais frustrados e preocupados: "será que o estou a colocar na escola na altura certa?" "será que o meu/minha filho/a vai sofrer e deveria continuar no pré-escolar a brincar por mais um ano?"


Estas e muitas mais questões assoberbam as cabeças dos pais e enchem-nos de responsabilidade quando pensam no melhor para a criança.


Devemos então pensar em vários pontos que se tornam necessários refletir, ficando sempre ao critério de cada um como agir no seio da sua família.


Enquanto psicóloga, exerço atividades coletivas semanais com as salas pré-escolar, faço acompanhamento individual quando necessário e reúno com as educadoras da instituição participando também nas reuniões de atendimento aos pais, no sentido de, em conjunto, chegarmos a um consenso do que será melhor para aquela criança, naquele momento, tendo em conta factores como:

- a idade, em termos de maturidade e se é condicional;

- se consegue manter uma postura adequada em sala de aula tendo em conta o que é observado diariamente na sala pré-escolar e em contexto de acompanhamento;

- se segundo o seu comportamento diário, terá competências necessárias para acarretar e cumprir as regras dadas pelo professor em sala de aula;

- através das provas de Diagnóstico pré-escolar que contribuem para a intervenção efetiva e atempada junto da criança que tenha algumas dificuldades específicas de aprendizagem.


Frustrações vão haver sempre independentemente da altura em que a criança vai para a escola. São elas que as fazem crescer e saber lidar e contornar os obstáculos.


No entanto, é muito importante analisar todos estes fatores e outros mais específicos que surjam consoante cada caso, no sentido de zelar pelo bem-estar da criança. É importante ressalvar que a criança não se define por um momento de avaliação quando lhe é aplicado um teste por exemplo, mas sim no dia a dia.


É lidando com ela que me apercebo naturalmente daquilo que é mais importante: se está bem e feliz ou se precisa de um direcionamento positivo no sentido de se encontrar a ela própria, muitas vezes reflexo do ambiente familiar ou inseguranças e/ou necessidade de aprovação do outro.


O jardim de infância funciona assim como um dos principais recursos para a prevenção e/ou intervenção em problemas de comportamento, revelando-se como promotor de competências da criança, podendo ser definido como um autêntico agente de mudança desenvolvimental.


Como costumo dizer, só a brincar aprendemos a crescer. O pré-escolar serve precisamente para isso. Para brincar. Mas atenção! Até para aprendermos a brincar, precisamos de saber quais as regras, e aí torna-se necessário incutir limites. Desde pequenina que a criança aprende que, tem todo o direito de brincar, e quando estiver preparada para dar o salto, ela vai dar. No entanto, ela já tem de fazer a sua parte.


É aqui que se torna importante falar da rotina.


Para os pais que acreditam que o filho precisa de ter tudo o que eles não tiveram, é melhor rever o conceito. Os filhos precisam sim de pais presentes. Precisam de rotina, ou seja, o horário das refeições, saber que alguém irá levá-los e buscá-los à escola, precisam de alguém que os ensine a não maltratar os animais, a devolver o brinquedo ao amigo que não é do próprio, e isto são apenas alguns dos exemplos que contribuem para a formação da personalidade da criança.


É preferível ter a presença dos pais do que os bens materiais e a ausência de carinho. A criança necessita de uma rotina que lhe transmita segurança para conseguir dar o tal salto. O amor despreocupado também traduzido em desapego. Que ela se sinta amada ou desejada, vivendo ela numa casa de madeira ou num castelo. Aos olhos de alguns, a criança feliz é aquela que tem tudo, enquanto aos olhos dos estudantes do comportamento, a criança feliz é a criança que tem o que é necessário e que aprende a lidar com a frustração gradualmente quando ela ocorre. Sim, porque ela vai ocorrer.


A bagagem cultural transmitida pela família é muito importante para a formação da personalidade, valores/princípios da criança. Se fizermos uma leitura da nossa infância, vemos que somos o que somos porque tivemos base e chão firme sob os nossos pés, e não porque nos ofereceram jogos de computador ou um tablet. Talvez tenhamos tido acesso ao básico do básico mas, não nos faltou o essencial: amor, carinho, disciplina e ROTINA.


Falando diretamente para os pais, que a vossa cabeça e o vosso coração falem mais alto no momento da decisão e jamais se arrependam disso, afinal tomaram-na a pensar no bem-estar da vossa criança. Ela pode passar por inúmeras dificuldades mas ela vai conseguir ultrapassar todas elas, e ela conta com a vossa ajuda e o vosso reconhecimento em cada salto que der, em cada nota que apresentar, em cada comportamento, para que ela aja não para chamar à atenção, mas sim porque se sente bem em agir assim. Se for mais prudente ficar mais um ano no pré-escolar, também não há mal nenhum nisso. Vai brincar muito, sujar-se, chorar, rir, viver!!! E ir para a escola quando for o momento mais acertado.


No entanto, devem ser agilizadas estratégias entre a psicologia e a educação de infância versus os pais da criança no sentido de ir ao encontro das necessidades da mesma, por forma a poder desenvolver a sua maturidade socio-emocional ao longo desse próximo ano, caso contrário a criança pouco irá progredir e será frustrante para a própria que não foi para a escola ao mesmo tempo que os seus amiguinhos e para a família que não vê progressos.


Os profissionais de saúde, e não só a Psicologia, mas toda a equipa, deve zelar diariamente pelo bem estar e felicidade das crianças.


Um bem haja a toda a equipa com a qual tenho o privilégio de trabalhar e tanto me tem ensinado que é através da boa disposição que ensinamos o outro a ser feliz. Com regras e limites, dando o exemplo. FELIZES!


Sandra Anjos.

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