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Violência na escola: o medo de agir.


Cada vez mais a problemática da violência em contexto escolar é capa de revista.


O bullying, a indisciplina, a falta de cidadania, agressões a professores e/ou alunos,

os roubos e os mais variados distúrbios constituem uma preocupação atual para toda

a comunidade educativa.


A violência na escola é transversal em termos de classes sociais e dificulta a prática dos princípios fundamentais da democracia e o respeito pelos direitos humanos.


A indisciplina em contexto de sala de aula é uma das formas mais comuns de violência escolar. Os comportamentos disruptivos, de desafio da autoridade, envolvendo agressões verbais e/ou físicas entre alunos e professores que ocorrem diariamente podem ter origem no ambiente familiar e/ou social da criança. Isto é algo que começa desde cedo, sem idade definida, tornando-se necessário refletir para poder agilizar estratégias em torno destas situações que ocupam cada vez mais espaço na comunidade.

Outra forma de violência bastante comum nas escolas é o bullying, uma forma de agressão em que um ou mais alunos, repetidamente e com intenção, fazem por intimidar e provocar a vítima. Estes acontecimentos podem chegar a extremos e levar a distúrbios emocionais, afetando a saúde da criança a todos os níveis. Estas vítimas relatam, com frequência, que se sentem tristes, incompetentes, apresentam distúrbios de sono, enurese, distúrbios gastrointestinais, dores de cabeça, entre outros. Tanto o agressor como a vítima, apresentam uma probabilidade acrescida de desenvolver sintomas depressivos e/ou ideação suicida.


No entanto, muitas vezes os pais não têm conhecimento de que os seus filhos são vítimas ou agressores, não lhes permitindo tomar medidas para evitar este tipo de ocorrências. A agressão verbal, que parece ser a mais comum neste âmbito, acaba por passar despercebida e a vítima nem sempre tem provas do sucedido. Enquanto criança, isola-se frequentemente e prefere não falar do assunto com medo que algo de pior lhe aconteça. Tal facto irá fazer sentir o agressor mais confiante, e tudo isto acaba por se tornar num ciclo vicioso, que, nos cabe a todos nós, enquanto comunidade e profissionais de saúde, estarmos atentos, para poder intervir, e acima de tudo, prevenir este tipo de situações.


Torna-se assim essencial apontar algumas estratégias de intervenção e prevenção neste contexto para que, sem medos, possamos todos agir em torno da resolução destes conflitos, o mais cedo possível. Sabemos que as crianças vivem e são educadas através de exemplos. “Devemos todos ajudar a construir um mundo onde as crianças vejam que os adultos não faltam à sua palavra.”


- Projetos educativos que promovam a cidadania, os valores e princípios a ter pelo Outro;

- Atividades desportivas e de lazer como forma de implementar a união entre as crianças desde cedo, fomentando hábitos saudáveis;

- Dinamização dos recreios;

- Formação dos docentes por forma a saberem gerir este tipo de situações em contexto de sala de aula, atendendo a uma resolução positiva de conflitos;

- Formação das auxiliares como parte integrante do meio escolar, articulando ideias com os restantes profissionais;

- Ações de formação para os pais e comunidade em geral, desmistificando crenças limitadoras e dando sugestões de como perceber se a sua criança poderá estar a ser alvo de algum tipo de violência escolar;

- Por último, e não mais importante, uma maior vigilância na escola.


Os pais e/ou encarregados de educação têm, sem dúvida, um papel significativo, pois são eles os modelos mais importantes de comportamento para os seus filhos. Se as suas práticas ocorrerem no sentido de competências sociais e emocionais adequadas, valorizando e utilizando o reforço positivo por um lado, incutindo regras e limites por outro, estarão a educar a criança para a resolução dos seus problemas sem agressividade.


Enquanto psicóloga, penso ser mesmo muito importante desmistificar as crenças limitadoras que os pais possam ter, a vergonha de expor a situação, como irão ser vistos, será que isto ou aquilo e tantas outras questões que passam pela cabeça. Imaginemos então um exemplo fictício, mas que, está perfeitamente adaptado aos dias de hoje:


“O R. tem 9 anos. Por norma chega a casa da escola de cabiz baixo, lancha, e fecha-se no quarto a jogar playstation. A mãe pede-lhe para ele pôr ou levantar a mesa e ele responde mal e diz que não lhe apetece. A mãe diz para ele ir tomar banho antes do jantar e ele recusa-se, dizendo que tem fome, mas está com sono. Claro que é apenas uma desculpa para não tomar banho pois chega à cama e não prega olho. Ora é normal que aqui os pais se questionem: e agora como vou agir? Será que se passa algo de errado com o meu filho?”


Sugiro então algumas dicas, que podem/devem ser adoptadas neste tipo de situações:

- Tentar falar com a criança e perceber os motivos do seu isolamento e descontentamento, desmistificando situações, transmitindo confiança e liberdade para falar;

- Promover momentos de lazer em família que façam a criança sentir-se mais descontraída, de modo a que esta se sinta mais à vontade para falar do que a preocupa, o que irá evitar as chamadas de atenção;

- Tentar perceber junto da escola, nomeadamente professora, diretora de turma e auxiliares qual o comportamento da criança e se têm ocorrido conflitos;

- Promover momentos sociais para a criança, por forma a evitar o isolamento, nomeadamente fomentar as relações de amizade da mesma e dizer-lhe que pode levar amigos até lá a casa;

- Fazer a criança perceber, acima de tudo, que pode errar, que está à vontade para falar com os pais seja sobre que tema for e de que não está sozinha, transmitindo-lhe isso através de princípios e valores diários;

- Não ter vergonha de expor a situação perante profissionais de saúde como o caso da psicologia, em que poderemos agilizar estratégias indo de encontro às necessidades do paciente.


A violência na escola só poderá ser evitada se toda a comunidade educativa se empenhar em construir um modelo positivo, desde cedo, para a criança. Se esta se sentir segura, respeitada, com afeto, a probabilidade de desenvolver hábitos positivos é maior. Sabemos que irão sempre existir atritos que fazem parte do dia-a-dia, pois é também a contorná-los e a ultrapassá-los que todos crescemos, inclusive a criança.


Está na hora de agir sem medo. Pelas crianças. Por todos nós.


Sandra Anjos.

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